Energia solar avança no campo

Energia solar avança no campo

Crescimento da geração fotovoltaica entre os produtores rurais ganha impulso após a sanção da lei que instituiu o marco legal das modalidades; especialistas dizem que este é o momento de aderir ao sistema

Nereida Vergara

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Em crescimento constante na última década, a geração de energia fotovoltaica no Brasil chegou no dia 2 de março de 2022 a uma marca histórica, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (Absolar): atingiu os 14 gigawatts de capacidade instalada, potência igual à da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu.

Esta expansão conta, a partir deste ano, com mais um impulso. Em janeiro foi sancionada a Lei 14.300, que estabelece o marco legal da Microgeração e Minigeração Distribuída. O texto regulamenta modalidades de geração e institui os Sistema de Compensação de Energia Elétrica e o Programa de Energia Renovável Social.

A Absolar preconiza que o ano de 2022 é o melhor momento para investir nessas tecnologias, em razão dos aumentos previstos para as contas de luz dos brasileiros e pelo período de transição previsto na lei, que permite manutenção das regras atuais até 2045, inclusive para os que aderirem ao sistema até 7 de janeiro de 2023, o que significa que não pagarão taxas de uso da rede.

Para os produtores rurais, além das vantagens trazidas pelo marco legal, a perspectiva de retirada total do subsídio na conta de luz até o final deste ano torna-se um estímulo para buscarem as placas solares que podem levar a uma economia de até 90% nos seus custos fixos.
Consultor na área de energia e engenheiro mestre da Universidade de Passo Fundo (UPF), Rangel Casanova Daneli entende que o grande motivador para os investimentos na geração de energia fotovoltaica tem sido o bolso. Segundo ele, o alto custo da energia elétrica impacta cada vez mais nas finanças dos agricultores, assim como nos setores produtivos em geral.

“O campo está cada vez mais tecnificado e demandante da energia elétrica” diz Daneli, exemplificando com o que se observa em diversas cadeias produtivas. “Resfriadores e ordenhadeiras, aquecimento e refrigeração para granjas de suínos e aves representam grande consumo de energia. Depois da folha de pagamento, comenta o consultor, a energia elétrica é a maior despesa fixa dos empreendimentos”.

O engenheiro, que já atuou como professor, afirma que mesmo para pequenos agricultores o investimento em energia solar é viável e vantajoso, porque há linhas de crédito bancário com este fim. Salienta ainda que o retorno financeiro é tão grande com o uso da nova modalidade energética que a prestação devida pelo sistema instalado costuma ser menor do que aquilo que o produtor pagava em sua conta de luz.

Aspectos ambientais e sociais também são invocados por Daneli. Citando dados da Absolar, ele diz que desde 2012 foram retiradas do meio ambiente brasileiro pela energia solar 18 milhões de toneladas de dióxido de carbono. “No campo social, em uma década, a instalação desses sistemas contribuiu com R$ 74 bilhões em investimentos no Brasil, R$ 20 bilhões em tributos para os cofres públicos e 420 mil empregos diretos”, enumera.

Crescimento 

Empresas do ramo de energia fotovoltaica que estiveram presentes na 22<SC120,170> Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, relatam aumento na demanda pelos sistemas.

Samuel Guilherme Citon, gerente de franquias da Ilumisol, com sede em Cascavel, no Paraná, e quatro franquias no Rio Grande do Sul (Caxias do Sul, Carazinho, Santa Cruz do Sul e São Leopoldo), relata que em 2021 as vendas já se mostraram promissoras, mas só nos primeiros dois meses de 2022 tiveram alta de cerca de 40% sobre o faturamento do mesmo período do ano passado, de aproximados R$ 100 milhões.

“Antes, a busca maior era por consumidores residenciais, mas, com o marco, se observa o aumento de interesse entre as empresas de diversos setores e do meio rural”, constata. Citon aponta que a Ilumisol tem projetos para qualquer tamanho de produtor, dos grandes à agricultura familiar.

“Oferecemos prazo de 120 dias de carência para a aprovação do projeto e instalação das placas, período durante o qual o produtor paga somente sua conta normal de energia”, destaca Citon. O gerente calcula que, na maioria das vezes, a parcela do financiamento costuma ser menor que os gastos que a propriedade vinha tendo com a compra da energia.

Estreante na Expodireto, a Solutec, de Santa Bárbara do Sul, também tem a percepção de crescimento a partir do marco regulatório. Douglas Ragasson, diretor da empresa, revela que os negócios dobraram em um ano, passando de 40 sistemas instalados em 2020 para 80 sistemas em 2021.

Ragasson calcula que para colocar um sistema de energia solar num aviário de pequeno a médio porte, o custo fique em torno de R$ 300 mil, para um consumo de energia elétrica que gira em torno dos R$ 6 mil a R$ 7 mil por mês. “O produtor faz uma troca, da conta da luz pelo financiamento”, pontua. Em média, o investimento em energia solar se paga em cinco anos e meio, enquanto que as placas tem garantia de 25 anos, ou seja, um bônus de economia de duas décadas.

O Sicredi é uma das instituição parceiras do produtor em projetos de energia solar. O presidente da instituição, Marcio Port, indica que os créditos para segmento mais que dobraram desde o ano passado e que 40% dos sistemas fotovoltaicos instalados no Estado são financiados pelo banco. 


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