Guerra prolongada na Ucrânia não representa risco para o agronegócio

Guerra prolongada na Ucrânia não representa risco para o agronegócio

Avaliação de consultores é que Brasil conquistou novos mercados para grãos e carne de frango e suprimento de fertilizantes foi solucionado

Patrícia Feiten

Avaliação de consultores é que Brasil conquistou novos mercados para grãos e carne de frango e suprimento de fertilizantes foi solucionado

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A guerra na Ucrânia, que completou um ano na última sexta-feira (24), alterou rotas de exportação, turbinou os preços de commodities como trigo e milho e fez os custos da energia e de insumos agrícolas dispararem. Sem uma perspectiva de desfecho no horizonte próximo, o conflito deve continuar desestabilizando o tabuleiro global, mas não deve ter repercussões negativas no agronegócio brasileiro, avaliam analistas do setor.

O consultor Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, explica que a ofensiva russa afetou não apenas a capacidade ucraniana de manter suas lavouras, como também instalações de armazenagem, estradas e terminais portuários. Quarto maior exportador mundial de milho e trigo, a Ucrânia era o principal fornecedor desses itens para os mercados europeu, chinês e africano. Para o ciclo 2022/2023, a projeção é de redução de até 35% em sua área de cultivo de grãos. “A safra de milho atual é de 27 milhões de toneladas. Antes da guerra, eles produziam 42 milhões, é uma queda brutal”, exemplifica Cogo. “Mesmo acabando a guerra no médio prazo (seis meses), a infraestrutura está totalmente comprometida e isso não vai se recuperar do dia para a noite.”

Segundo o consultor, apesar de todos os impactos negativos, o conflito trouxe oportunidades para o Brasil, que assumiu a liderança global nas exportações de milho e voltou a exportar o cereal para a China. O cenário também beneficiou as exportações brasileiras de frango, que devem bater novo recorde neste ano se a gripe aviária não atrapalhar, e os embarques de trigo. “Foi a guerra que elevou o preço global do trigo, provocou uma expansão de área plantada e abriu espaço para o trigo brasileiro crescer (no mercado externo)”, diz Cogo. “Ainda que a guerra termine, quando você conquista novos mercados, é difícil perder. Mesmo que a Ucrânia retomasse as exportações.”

No caso dos insumos, a tensão geopolítica elevou os preços dos fertilizantes, mas não causou desabastecimento. Em abril do ano passado, as cotações dos adubos à base de fosfato (conhecidos pela sigla MAP), potássio (KCI) e nitrogênio (ureia) chegaram a 1.295 dólares, 1.200 dólares e 950 dólares, respectivamente, observa a analista Maísa Romanello, da consultoria Safras & Mercado. O Brasil, porém, continuou importando da Rússia, principalmente por meio de operações de barter (troca de insumos por parte da produção futura), e buscou fornecedores alternativos, como o Canadá. “Os preços recordes levaram uma queda de demanda, isso restabeleceu um certo equilíbrio do mercado. Mas os impactos continuam, ainda seguimos com preços elevados”, diz Maísa.

Segundo a analista, os agricultores brasileiros anteciparam as encomendas de fertilizantes no ano passado e estão com estoques altos. Com a menor demanda, os preços devem continuar recuando caso o conflito no leste europeu se prolongue. Um fator de incerteza é o gás natural, matéria-prima para a produção de adubos nitrogenados, já que a Rússia reduziu as exportações do item aos países europeus. “Mas a Europa se reorganizou para ter gás de outras fontes. No momento, o preço está em queda, então não temos uma situação preocupante”, avalia Maísa.


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