Entenda por que os estoques de diesel preocupam agricultores
Temor é que redução na oferta do combustível ocorra durante a colheita da safra de inverno e a semeadura dos cultivos de verão
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Entidades do setor agropecuário acompanham com olhos atentos os desdobramentos da crise do diesel. Entre os produtores, há o temor de que a oferta do combustível fique ainda mais apertada no segundo semestre, quando o consumo do produto tende a crescer no Brasil com a maior circulação de caminhões em razão da safra de grãos.
A preocupação é motivada também pela alta demanda global pelo produto, já que as sanções impostas ao petróleo russo, em razão da guerra travada na Ucrânia, diminuíram os estoques mundiais de diesel.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, diz que a preocupação no setor é “muito grande”. “Os produtores estão fazendo medidas de precaução, lotando os tanques, mas é uma coisa cara”, relata. Segundo Teixeira, os agricultores também enfrentam problemas com furtos de combustível no campo, o que eleva ainda mais os custos de produção. “Então, este é um momento muito especial”, afirma.
Outro fator de apreensão, segundo Teixeira, vem dos preços. Na semana passada, o diesel mostrou leve recuo nos postos de venda, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em média, o litro do combustível estava em R$ 6,91, 0,3% abaixo do valor da semana anterior, quando havia chegado ao recorde de R$ 6,943. “O produtor abastece uma (máquina) automotriz com 600 litros e, às vezes, consegue completar o dia (de trabalho). Aí tu botas duas automotrizes, mais um caminhão para puxar, um trator, e a despesa no final do dia é incompreensível”, destaca Teixeira.
O economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Tarcisio Minetto, vê semelhanças entre a crise do diesel e o impasse dos fertilizantes. “Assim como ocorreu aquela forte reflexão de que iria faltar (produto), acreditamos que aos poucos isso consiga se normalizar”, compara Minetto. Ele cita o anúncio feito pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em nota na última sexta-feira, de que os estoques de diesel S10, o mais vendido no Brasil, seriam suficientes para garantir o suprimento no país por 38 dias, caso as importações do combustível fossem suspensas.
O cálculo do MME considerou os estoques de diesel importado e a produção interna, e a divulgação ocorreu após a Petrobras ter enviado um ofício ao ministério, alertando para o risco de desabastecimento no segundo semestre. “Vamos crer que não falte. O que pode ter são os aumentos, o que é um custo a mais para a lavoura”, diz Minetto.