Semeadura da soja alcança 76% no Rio Grande do Sul

Semeadura da soja alcança 76% no Rio Grande do Sul

Chuvas frequentes atrasaram mais o plantio nas regiões do Planalto e Noroeste e aumentam preocupação com doenças fúngicas, como a ferrugem

Patrícia Feiten

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As chuvas intensas, que não deram trégua aos produtores de soja nos últimos dois meses, continuam desafiando o plantio da oleaginosa no Rio Grande do Sul. Até o início desta semana 76% da área de cultivo em todo o Estado projetada para o ciclo 2023/2024 já havia sido semeada, ante um percentual de 80% registrado na mesma época do ano, de acordo com dados do Informe Conjuntural da Emater/RS-Ascar divulgado nesta quinta-feira (7). O atraso, porém, é mais percebido em algumas das principais regiões produtoras. Atribuído ao fenômeno El Niño, o excesso de precipitação não apenas impede a entrada das máquinas semeadeiras nas lavouras, como também deixa o solo encharcado, facilitando a ocorrência de doenças fúngicas nas plantas.

Segundo o engenheiro agrônomo e técnico da Emater/RS-Ascar Alencar Rugeri, apesar de os efeitos do El Niño já serem esperados – as previsões meteorológicas apontavam chuvas mais frequentes, sinalizando entraves para a colheita do trigo e o plantio dos grãos de verão –, o elevado volume de chuvas surpreendeu os agricultores. “Já deveríamos estar nos encaminhando para a finalização do plantio. O produtor não está mais fazendo aquilo que tinha planejado, está aproveitando as janelas de plantio de forma desesperadora”, afirma Rugeri. Apesar do atraso, o técnico pondera que é cedo para afirmar se haverá prejuízos à safra de soja, pois as condições climáticas podem melhorar. “A melhor fase de plantio, em condições normais, já passou. Temos uma safra toda concentrada. (A chuva) aumenta o risco de termos dificuldades. Teoricamente, vai diminuindo o potencial produtivo”, explica Rugeri.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Carlos Fauth, estima que os municípios da região do Planalto e do noroeste gaúcho, que nesta época do ano passado já haviam finalizado a semeadura, tenham plantado até o momento em torno de 70% das lavouras. “O produtor, de setembro para cá, não trabalhou mais do que três, três dias e meio seguidos no plantio”, diz. Segundo Fauth, que também lidera o Sindicato Rural de Passo Fundo, o calendário de semeadura em sua região se estende até 10 de dezembro, sendo o mês de novembro o período mais favorável para colocar as plantadeiras em campo. “O Estado hoje planta muitas variedades de ciclo precoce. Então, se for plantado depois de 20, 25 de novembro, cai a produtividade”, destaca.

Além de atrapalhar a semeadura, as chuvas excessivas vêm acarretando prejuízos aos produtores. Isso porque as enxurradas retiram a camada de adubação aplicada previamente no solo. “Houve lavouras em que foi efetuado o plantio e choveu 200 mm logo após. Vamos ter algumas lavouras com replantio”, afirma Fauth. O clima adverso também aumenta a preocupação com o controle de doenças fúngicas como a ferrugem da soja, que ameaça o desenvolvimento das plantas. “Se o produtor não consegue entrar na lavoura, às vezes passa da hora de aplicação dos herbicidas”, observa o presidente da Aprosoja-RS.

Para minimizar impactos negativos da chuva, Rugeri recomenda aos agricultores que ainda não adquiriram todos os insumos para o plantio a escolha de cultivares de soja mais tolerantes a essas doenças. “Então, (a orientação é) procurar um escritório da Emater ou das cooperativas e dialogar com os técnicos para ver a melhor alternativa dentro das possibilidades que tu tens”, diz o agrônomo.


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