Agropecuária gaúcha perde R$ 136 bilhões de 2020 a 2023

Agropecuária gaúcha perde R$ 136 bilhões de 2020 a 2023

Fetag-RS atribui perdas à ocorrência dos fenômenos climáticos extremos no RS

Nereida Vergara

Carlos Joel da Silva, ao centro, ressaltou necessidade de o Estado trabalhar a sucessão familiar

publicidade

Os números do balanço anual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), apresentados nesta quarta-feira, demonstram que 2023 foi um ano tanto de vitórias - com a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (SDR), como de preocupações.

Isso porque a agricultura familiar gaúcha, assim como o agro do RS em geral, entrou o ano contabilizando perdas de (mais) uma safra de verão cultivada sob estiagem, devido ao fenômeno La Niña. E nem bem ele acabou, o produtor já passou a enfrentar a fúria climática do fenômeno El Niño, com alto volume de chuva e com a ocorrência de granizo e vento.

O levantamento anual da entidade, detalhado pelo agrônomo Kaliton Prestes, em Porto Alegre, apontou uma perda de receita de R$ 57,8 bilhões na atividade agropecuária gaúcha causada pelos problemas climáticos somente neste ano. O número chega no acumulado de 2020 a 2023 a R$ 135,8 bilhões.

Para se ter uma ideia do tamanho do estrago, Prestes compara a cifra de 2023 à do orçamento total do Rio Grande do Sul, aprovado pela Assembleia Legislativa para o ano, de R$ 70,3 bilhões. "O Estado, que já vinha das perdas da estiagem, passou por nada menos que 11 ciclones e suas consequências", lembrou. 

Além disso, a agricultura familiar gaúcha, principal reduto da produção leiteira, enfrentou (e ainda enfrenta) uma crise histórica na atividade. Com uma perda anual de 30% no preço do litro do leite produzido no campo, o produtor recebeu R$ 1,92, pelo litro em outubro, enquanto pagou R$ 2,12 pelo quilo de ração para as vacas.

A direção da Fetag-RS lembrou, inclusive, do relatório apresentado pela Emater/RS-Ascar durante a Expointer deste ano, que apontou redução de 60,7% no contingente de produtores de leite do Estado desde o ano de 2015. Segundo o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, é importante observar que 49% do abandono da atividade leiteira ocorreu entre os produtores que tinham capacidade de entrega entre 50 litros e 100 litros de leite por dia. 

Joel comentou ainda que as decisões governamentais de reativar as pastas específicas de atendimento à agricultura familiar, tanto na esfera federal quanto na estadual, foi importante do ponto de vista político. Entretanto, ressaltou que foi pouco eficaz do ponto de vista prático, uma vez que ambas as instâncias fizeram muito pouco pelo produtor neste ano, dadas as dificuldades de orçamento e de pessoal. "Já cobramos e continuaremos cobrando forte do governo estadual, que centraliza o que é da agricultura familiar na SDR", comentou.

O dirigente ainda destacou a necessidade de o governo do Estado dar mais atenção à sucessão rural. De acordo com ele, hoje, 70% dos agricultores familiares estão acima de 45 anos, o que poderá comprometer as atividades do setor em um futuro breve. 

Veja Também


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895