Clima impacta negociação de fertilizantes

Clima impacta negociação de fertilizantes

Com atraso no plantio da safra de verão, volume de adubos estimados para o primeiro semestre de 2024 é o menor desde 2020

Patrícia Feiten

Clima impacta negociação de fertilizantes

publicidade

Os problemas climáticos, como as chuvas excessivas no Rio Grande do Sul, e as incertezas sobre a safra de verão estão afetando o ritmo de negócios com fertilizantes no país, aponta uma pesquisa da consultoria StoneX. A projeção da empresa é que o volume de adubos comercializados no primeiro semestre de 2024 seja o menor para o período de toda a série histórica do levantamento, iniciado em 2020. Para o estudo, foram entrevistados produtores que representam uma área de plantio estimada em 29,5 milhões de hectares – cerca de 44% das lavouras de grãos no ciclo 2023/2024.

De acordo com os dados da StoneX, apenas 31% dos fertilizantes projetados para o primeiro semestre de 2024 já foram negociados. Nas pesquisas feitas em novembro de 2020, 2021 e 2022, respectivamente, esse percentual havia sido de 48%, 49% e 41%. Do total de respostas obtidas, 64% se situam dentro da primeira faixa de avaliação, ou seja, “necessidades já comprometidas entre 0 e 24%”. Para o Rio Grande do Sul, o patamar de negociação indicado no levantamento foi de 22%. O atraso nas compras é mais expressivo quando se consideram as projeções para o segundo semestre do próximo ano: 95% das respostas ficaram na primeira faixa de avaliação, o que equivale a um índice de negociação de apenas 14%, também o mais baixo desde o início da pesquisa. No Rio Grande do Sul, o percentual é de 13%.

Segundo o consultor de gerenciamento de riscos da StoneX, Renato Françoso, embora os negócios com fertilizantes sejam tradicionalmente mais fracos no segundo semestre, alguns fatores estão contribuindo para uma maior lentidão nos negócios. Ele lembra que, em 2022, houve uma disparada de preços dos fertilizantes após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia – o país euroasiático é o maior fornecedor dos insumos utilizados no Brasil – e, em 2023, os preços iniciaram o ano em queda. “Isso deixou o produtor muito receoso. No ano passado, ele tinha inclusive cortado aplicações. Neste ano, não queria pagar (preço) alto, então ficou esperando a melhor janela para fazer a negociação, só que a relação de troca (entre adubos e grãos) estava ruim”, destaca Françoso.

O quadro, segundo o consultor, é agravado pelo atraso no plantio da nova safra de verão. No caso da soja, no Rio Grande do Sul a semeadura já foi realizada em apenas 28% da área total de cultivo, enquanto, nesta mesma época do ano passado, os trabalhos já alcançavam 55%. “No Brasil, (em média), a gente tem um atraso de mais de 10%. Em alguns estados, o plantio está mais de 30% atrasado se comparado com o ano passado”, observa Françoso, destacando que a situação acaba adiando as decisões de plantio do milho safrinha nas regiões produtoras do cereal.

Apesar do adiamento dos negócios, Françoso diz que não deve ocorrer falta de fertilizantes no mercado, já que o volume de adubo importado em 2023 deverá atingir de 44 milhões a 45 milhões de toneladas até dezembro, superando as 41 milhões de toneladas registradas no ano passado. “O principal ponto é a logística. Todas as entregas vão acontecer ao mesmo tempo, esse vai ser o grande problema”, avalia o consultor.

Veja Também

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895