Setor de máquinas projeta 20% de recuo nas vendas

Setor de máquinas projeta 20% de recuo nas vendas

Queda nos preços das commodities agrícolas e freio na expansão da área plantada no Brasil são razões para o resultado, segundo a Abimaq

Patrícia Feiten

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Após três anos de crescimento de vendas, a indústria de máquinas voltada ao agronegócio deve encerrar 2023 no vermelho. A expectativa é de declínio de 20% nos negócios no país em relação ao ano passado, quando as receitas do segmento chegaram a R$ 92 bilhões em termos nacionais, projeta a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Segundo o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da entidade, Pedro Estevão Bastos de Oliveira, a retração é explicada pela queda generalizada dos preços dos grãos e pela falta de perspectivas de expansão da área plantada no Brasil no ciclo 2023/2024, que acaba freando os investimentos.

Pedro Estevão lembra que os fabricantes do segmento saltaram de uma receita de R$ 54 bilhões em 2019 para resultados de R$ 63 bilhões e RS 90 bilhões, respectivamente, em 2020 e 2021, período marcado pela pandemia de Covid-19. “Isso se deveu basicamente ao aumento dos preços das commodities agrícolas. A taxa de câmbio subiu, a rentabilidade subiu e, o mais importante, em 2020, 2021 e 2022 tivemos um aumento de área plantada de em torno de 12 milhões de hectares. Então, você tem um mercado que a gente chama de expansão e reposição”, afirma.

Apesar da projeção de queda, o executivo observa que a estimativa da Abimaq parte de uma base de comparação “fenomenal”. “Neste ano, não temos expansão de área, o preço das commodities não está tão bom e a taxa de juro está um pouco alta. Se você comparar a rentabilidade futura da safra que vai colher com a de 2020, 2021 e 2022, ela é bem menor. Mas, mesmo caindo 20%, ainda não temos crise no setor. É que o mercado deu uma acomodada”, afirma Pedro Estevão.

Os sucessivos cortes da taxa básica da economia, a Selic, atualmente em 12,25% por ano, não foram suficientes para produzir um impacto positivo nos negócios com máquinas agrícolas, já que o chamado spread bancário (diferença entre o custo de captação das instituições financeiras e o juro cobrado dos clientes) ainda é elevado do ponto de vista dos produtores rurais. “(A Selic) teria de estar abaixo de 10% para o pessoal se animar. Hoje, se você for no mercado, vai achar uma taxa de 15%, que é bastante cara”, diz o representante da Abimaq.

No Plano Safra 2023/2024, a taxa de juros do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) para a agricultura empresarial foi mantida em 12,5% ao ano. “O pessoal olha essa taxa agora e fala o seguinte: a (Selic) vai cair mais. Se eu não estou precisando de máquina urgentemente, vou esperar o ano que vem”, diz Pedro Estevão. O Moderfrota recebeu, no total, recursos de R$ 11,86 bilhões no plano federal atualmente em vigor, frente a R$ 10,16 bilhões disponibilizados no ciclo 2022/2023 “É um Plano Safra maior, fez com o mercado não caísse (ainda) mais”, avalia Pedro Estevão.<VS10.5>

Estiagem na conta. Para o mercado gaúcho, o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers) prevê queda de em torno de 25% para as vendas em 2023. O presidente da entidade, Cláudio Bier, atribui o desempenho às estiagens dos últimos anos, que causaram quebras na produção de soja e milho e deixaram produtores descapitalizados, e às chuvas registradas nos últimos meses no Estado. Efeito do fenômeno El Niño, as precipitações frequentes e excessivas estão acarretando atrasos no plantio da safra de verão 2023/2024.

“A régua estava muito alta. Os três últimos anos tinham sido muito positivos (em vendas)”, afirma o empresário. Apesar do menor ritmo de negócios, Bier diz que as demissões feitas pela unidade da John Deere em Horizontina, na região noroeste do Estado, são um caso isolado. Na semana passada, a empresa anunciou, em comunicado, o desligamento de 297 pessoas, destacando que o assunto foi discutido com o Sindicato dos Metalúrgicos de Horizontina e Região. “Neste ano, há uma baixa nas vendas no Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul, (algumas indústrias) estão diminuindo quadros. Não tenho notícias de outra que tenha feito uma demissão tão grande”, diz Bier.


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