Preços da carne bovina devem voltar a subir com fim do embargo chinês
valores podem aumentar ainda mais no Rio Grande do Sul, em relação a outros estados
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Os preços da arroba do boi no Rio Grande do Sul devem voltar a crescer em no máximo 15 dias. Esta é a previsão do coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro UFRGS), Júlio Barcellos, ápós o anúncio oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), nesta quinta-feira (23), sobre a retomada dos embarques à China. Os envios estavam suspensos desde o dia 22 de fevereiro devido a um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), doença conhecida como mal da “vaca louca”, detectado no município de Marabá, no Pará. Com o fim do embargo, carnes de animais abatidos a partir desta sexta-feira (24) podem novamente ser exportadas ao país.
O coordenador do NESPro avalia que os preços no mercado interno, primeiramente, devem voltar aos patamares anteriores ao embargo, quando o quilo vivo estava R$ 9,70, ante os atuais R$ 9,57. Embora reconheça que o recuo no Estado não ocorreu de forma acentuada devido à estiagem, Barcellos aposta num incremento de 5% e 7% em relação ao valor atual. “Talvez exista uma margem para subir um pouco mais que 7%, principalmente porque a carne no Brasil Central, daqueles estados exportadores para a China, se tornará um pouco mais cara para chegar ao Rio Grande do Sul com a facilidade que está chegando hoje”.
Isso ocorre porque, a partir deste momento, plantas exportadoras devem ser reativadas, algumas das quais estavam, inclusive, em férias coletivas. Isso soma-se a um movimento de aumento de preços que já se desenhava para o pecuarista gaúcho antes da revogação. “Então isso vai reativar o setor que já vem com uma escassez de gado decorrente da estiagem e já se aproxima de um período de dificuldade de atendimento das demandas em parques frigoríficos”, avalia Barcellos. Segundo ele, esses fatores levam a uma perspectiva de recuperação mais rápida do Rio Grande do Sul, em relação ao resto do país, em que os patamares de preço da arroba do boi devem voltar a elevar-se em cerca de 30 dias, tempo necessário para que os contratos de exportação para a China sejam restabelecidos. Já o coordenador da Comissão da Pecuária de Corte da Farsul, José Fernando Piva Lobato, avalia que os preços internos em todo o Brasil não devem aumentar significativamente. “Estamos em plena safra de animais gordos”, diz.
Com a volta à normalidade das exportações, a expectativa é de um crescimento nos embarques semelhante ao de 2022, de 2% a 3%, como avalia Barcellos. Mas, para ele, o cenário pode mudar caso a China precise fazer sacrifícios de suínos, em decorrência da volta da crise sanitária de peste suína africana no país, o que pode aumentar as exportações brasileiras de carne bovina para chineses de 5% a 10%.
Volta das exportações foi mais ágil em relação a outras ocasiões
Este embargo durou 30 dias, enquanto em 2021, quando a doença foi detectada no Brasil pela última vez, as exportações para a China ficaram suspensas por 100 dias. Esta rápida recuperação, se comparada ao último episódio, ocorreu por uma série de atitudes corretas tomadas pelas autoridades sanitárias brasileiras, em cumprimento a acordos internacionais de credibilidade, como a pronta notificação do caso e a imediata coleta de material, como avalia Lobato. Barcellos acrescenta que houve um início rápido das negociações por parte das autoridades brasileiras para reverter a situação, além da rápida entrega de provas de que tratava-se de um caso atípico da doença.
De acordo com Barcellos, soma-se a isso uma necessidade chinesa. “A China vem com um problema sério de abastecimento de proteína, a suinocultura chinesa começa a enfrentar uma nova onda sanitária que vai retrair um pouco a oferta de carne suína e associado a isso não existe carne no mundo para abastecer a demanda chinesa”, afirma. “Então esses elementos conspiraram favoravelmente ao Brasil para que o tempo de retomada fosse mais curto em relação a esses últimos anos”, conclui o coordenador.
Agora, com as restrições revogadas, é o momento para que as autoridades brasileiras comecem a pensar em negociações e proponham, futuramente, a revogação da cláusula que prevê embargo das importações chinesas sempre que há um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina. Lobato acrescenta que, para que esta situação não se repita, é preciso que haja evolução na pecuária de corte brasileira, com redução de idade de abate e consequente diminuição do risco de aparição da doença, que acomete principalmente animais mais velhos.