Número de incêndios em silos cresce no Rio Grande do Sul

Número de incêndios em silos cresce no Rio Grande do Sul

O Corpo de Bombeiros do Estado informa que nos três primeiros meses de 2023 já foram atendidas 20 ocorrências e especialista em segurança contra incêndios atribui problema à idade das estruturas

Lucas Keske*

Legislação sobre o assunto é considera boa, mas há dificuldades para adequar estruturas antigas às normas atuais

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Em três meses de 2023, o Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul atendeu 20 casos de incêndios ocorridos em silos de armazenagem de grãos. O último foi no dia 20 de março, em Vacaria, em uma estrutura instalada às margens da BR-285. Oito homens e 110 mil litros de água foram necessários para combater o fogo. Ao longo do ano passado, informa o Corpo de Bombeiros, foram 140 ocorrências deste tipo, 55% a mais do que em 2022. O aumento dos incêndios vêm sendo observados desde 2020, quando foram registrados 76 casos.

O Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS), Coronel Estêvam Camargo Rodrigues, afirma que a preocupação e vigilância sobre este tipo de instalação não é nova. Rodrigues explica que os silos e áreas de armazenamento se enquadram nas chamadas “Áreas classificadas”, em que o risco de ignição é elevado. Esse enquadramento exige das empresas o cumprimento de rígidas normas quanto à operação, assim como um detalhado Plano de Prevenção de Incêndio (PPCI) e de planejamento de manobras para rápida extinção das chamas antes que se alastrem e ponham mais partes da estruturas em risco. Segundo o coronel, a lei que rege este tipo de instalação (Resolução Técnica CBMRS N.º 22 Silos e Armazéns), é de 2017, e uma das mais modernas do país, sendo equivalente a diversas regulamentações internacionais. 

O arquiteto e especialista em atmosferas explosivas e segurança contra Incêndio, Celestino Rossi, afirma que há uma distância entre a lei e a sua efetiva aplicação. Rossi lembra que o armazenamento dos grãos é um dos maiores gargalos da cadeia do agronegócio nacional, já que o setor está em um momento acelerado crescimento, fazendo com que as unidades do Estado estejam quase sempre cheias, o que pode causar uma diminuição da criteriosidade das manutenções. A grande questão, afirma ele, é que boa parte dessas unidades foi construída há dezenas de anos, assim, mesmo que as normas de segurança sejam adequadas, elas são mais recentes que grande parte das construções presentes no Estado que “foram construídas sob a ótica de outra legislação”, diz.

Além disso, a adaptação dessas unidades antigas às normas é complicada e cara, além de implicar na paralisação do uso do silo durante as obras de conversão. “Primeiro, a gente quase não tem um tempo de parada para fazer isso. Segundo, porque os processos de manutenção nem sempre são os melhores possíveis na sua implantação. Isso envolve custos muito elevados e envolve paradas dessas unidades”, complementa.

O especialista, entretanto, classifica a fiscalização dos órgãos públicos como satisfatória, sendo a segurança dos silos uma responsabilidade dos proprietários. “O corpo de bombeiros aprova um projeto, mas ele não vistoria todos os sistemas que devem ser implantados. A responsabilidade é do proprietário da unidade ou do responsável pela unidade e do responsável técnico, seja engenheiro ou arquiteto que está executando esse projeto", ressalta.

Rossi destaca que o recolhimento de estatísticas a respeito de incidentes em silos ainda é recente no país, e que não há um número oficial de casos. Para alcançar mais segurança nestas unidades, recomenda atenção: “ É uma sequência de problemas que nós temos que vencer. Envolve a prevenção de incêndio, envolve a adaptação, envolve as inspeções dos equipamentos elétricos e mecânicos para a adequação às áreas classificadas e envolve treinamento de pessoal, conhecimento, principalmente", encerra.

*Sob supervisão de Nereida Vergara

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