Com oito mortes e 12,5 mil casos, dengue preocupa especialistas no Rio Grande do Sul
Médicos ressaltam importância de procurar atendimento e de prevenir criadouros do Aedes aegypti
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Febre de dois a sete dias, acompanhada de, pelo menos, dois sintomas dentre: diarreia, dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, dor atrás dos olhos, manchas avermelhadas pela pele, náuseas, desânimo, vômito e coceira. Esse é o quadro de um caso suspeito de dengue. No Rio Grande do Sul, houve, somente neste ano, a notificação de quase 30 mil casos suspeitos da doença, sendo 12,5 mil desses confirmado, o que representa quase 42%. Dos confirmados, 10,5 mil, ou 84%, são autóctones, ou seja, contraídos no próprio local onde a pessoa reside.
“A dengue é uma doença muito incômoda. A pessoa fica extremamente debilitada no período de percurso da doença. Por vezes, o infectado não consegue nem levar comida à boca”, explica o epidemiologista Jair Ferreira, professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina. Os especialistas atentam para a necessidade da procura ao médico. “Tem que procurar imediatamente o posto de saúde. A dengue pode evoluir para casos graves. Não é uma doença totalmente inócua, tendo casos de morte”, reforça o infectologista Luciano Goldani, professor do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da UFRGS. Ele frisa que, caso os sintomas não desapareçam de sete a dez dias, a pessoa deve retornar ao médico.
O Rio Grande do Sul registra, até agora, oito óbitos decorrentes da infecção pelo vírus da dengue. As mortes ocorreram em Boa Vista do Buricá, Chapada, Cristal do Sul, Dois Irmãos, Igrejinha, Jaboticaba e Horizontina, sendo que neste último município foram duas registradas. Como comparativo, no ano passado, ao todo, o Estado registrou 11 óbitos pela doença, apenas três a mais. Os dados são do painel da Infraestrutura Estadual de Dados Espaciais (IEDE), que compila informações do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Em Porto Alegre, em que pese não haver registro de óbitos, o número de casos confirmados nos primeiros quatro meses do ano supera o somatório dos seis anos anteriores, que compõem a série histórica do município. A Capital soma 1.554 casos confirmados em 2022 contra menos de mil casos em toda a série. O número atual representa 104 casos a cada 100 mil habitantes. Lajeado é a segunda cidade, depois de Porto Alegre, em número total de casos, com 1.238. O Rio Grande do Sul possui neste momento 442 municípios considerados infestado pelo Aedes aegypti. É o maior número de cidades nessa situação na série histórica do monitoramento, realizado desde 2000.
“Ainda temos calor e chuvas para as próximas semanas, com cenário ideal para proliferação do mosquito. Mesmo tendo manhãs frias, durante o dia acaba esquentando. È preciso manter a atenção”, alerta a responsável pela Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS) de Porto Alegre, Fernanda Fernandes. Com 69 agentes de combate às endemias (ACE) trabalhando em ações de conscientização e controle mecânico de criadouros do Aedes, ela acredita que em 80% dos casos o morador se conscientiza.
Um dos fatores para o aumento do número de mosquitos apontado pelos especialistas é a mudança no clima. “Até os anos 1990 não tínhamos dengue, praticamente. O que aconteceu foi a mudança climática. Estamos tendo menos frio e mais chuvas. Tem que haver uma prevenção antes do período de calor, que inicia em dezembro”, explica Goldani. Outro ponto foi o descuido com a questão durante a pandemia de Covid-19. “O assunto de saúde ficou centralizado na Covid-19 e as pessoas negligenciaram o problema da dengue”, analisa Ferreira. Ele reforça que o ciclo de vida da fêmea do Aedes é de 30 dias, mas que, com apenas uma cópula, ao longo deste tempo ela coloca muitos ovos. Evitando os focos, evitaremos que novos adultos se formem.
A situação fez com que o governo do Estado declarasse alerta máximo contra a dengue, prevendo através da SES, criar a modelagem de um painel com informações acessíveis à população e gestores com nível de infestação, número de casos e número de agentes de endemias, a capacitação de equipes assistenciais com foco no manejo clínico e a elaboração de videoaulas para equipes assistenciais e de vigilância em saúde.