Pauta dos caminhoneiros pede voto auditável e extinção do Supremo Tribunal Federal
Mobilização da categoria bloqueou parcial ou totalmente trechos de rodovias estaduais e federais do RS
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Inúmeras manifestações de grupos de caminhoneiros foram registradas nas estradas do Rio Grande do Sul e do restante do Brasil nesta quinta-feira. Em alguns pontos houve apenas protestos à margem das rodovias, enquanto em outros lugares trechos das vias foram bloqueados parcial ou totalmente por algum tempo. No Posto Radar, na RS 118, em Gravataí, a pouco mais de 20 quilômetros de Porto Alegre, cinco caminhões e mais dois carros de apoio estavam mobilizados em torno das 10h30min. Bandeiras do Brasil estavam estendidas e, na parte traseira de um dos veículos, uma faixa dizia: “Queremos respeito pela Constituição, aprovação da PL490, voto auditável, liberdade e democracia. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. Família e Pátria”. Enquanto as paralisações se multiplicavam pelas estradas de diversos estados, o presidente Jair Bolsonaro, defensor de muitas das pautas verificadas entre os manifestantes, tentava apaziguar os ânimos e desmobilizar os caminhoneiros por todo o país.
Três participantes da mobilização aceitaram conversar desde que não fossem identificados. As pautas das reivindicações mostraram ser abrangentes e esparsas. “Estamos aqui pelo que todo o Brasil quer: o fim da corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) e o voto auditável nas eleições. Os impostos no Rio Grande do Sul estão muito difíceis para nós. O presidente Jair Bolsonaro fixou o valor de alguns impostos, mas o governador Eduardo Leite segue aumentando os preços. Eu sou apenas motorista de caminhão, mas vejo os custos elevados que o meu patrão precisa pagar”, afirmou um dos caminhoneiros, que transportava cargas perecíveis. “Esperávamos uma adesão maior dos colegas. E também aguardamos um pronunciamento oficial do presidente”, acrescentou.
O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) acompanhava a movimentação pacífica naquele ponto. “Os caminhoneiros estão aqui se manifestando tranquilamente, convidando outros motoristas de caminhões a pararem e se juntarem no protesto. Não há maiores problemas”, relatou o soldado Alberto, que, ao lado de uma policial, conversava com alguns caminhoneiros. Outro participante da mobilização também expôs seus motivos para aderir à paralisação. “Em princípio estou aqui contra o STF. Mas também quero melhores preços dos combustíveis, do diesel, da comida, dos impostos em geral e da Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social). Queremos o bem para o povo.”
O governador Eduardo Leite, que foi citado diretamente por um dos manifestantes, não havia se pronunciado oficialmente até o fechamento desta matéria sobre os bloqueios em várias rodovias gaúchas. “Fiquei sabendo das paralisações pelas redes sociais. Como ando com o caminhão por aqui perto resolvi parar para fazer número no ato. Queremos de tudo um pouco, como a extinção do STF, preços mais baixos nos combustíveis e no gás de cozinha. Lutamos pelos direitos mínimos. Pretendemos ficar indefinidamente neste ponto”, destacou um dos caminhoneiros que transportava carga seca e estava sentado junto ao cordão da calçada.
Região Sul
As manifestações ao longo desta quinta-feira ocorreram em praticamente todas as regiões do Rio Grande do Sul. Na região Sul, um dos pontos de mobilização estava no km 66 da BR 392, em um posto de combustíveis, em Pelotas. Os participantes chegaram a parar cerca de 100 caminhões. Às 10h30min, mais de 40 veículos já tinham deixado a rodovia. Não foram registrados bloqueios nas estradas da região. O mesmo ocorreu no posto de combustíveis situado no km 481 da BR 116, em Turuçu. Conforme informou a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o fluxo foi normalizado às 10h45min. Em Camaquã, um grupo de caminhoneiros se concentrou na lateral da pista da BR 116. Parte dos veículos que passava pela região foi escoltada pela PRF em torno das 8h. Dessa maneira, puderam seguir adiante. Por sua vez, no km 585 da BR 290, em Alegrete, a PRF liberou o trecho às 8h30min.
Região da Serra
Em Flores da Cunha, na região da Serra, o protesto aconteceu no km 96 da RS 122. Os caminhoneiros eram abordados e convidados a aderir ao movimento. Este era um dos pontos de maior adesão durante os atos de paralisação, perto da rotatória de acesso a Nova Pádua. Em Caxias do Sul, o km 153 da Rota do Sol chegou a ficar bloqueado por uma hora, sendo liberado às 10h10min. Mobilizações de caminhoneiros também ocorreram no km 64 da RS 122, em Forqueta, entre Caxias do Sul e Farroupilha. A situação estava mais tensa no km 153 da RSC 453, na Rota do Sol. Os manifestantes interditaram a via impedindo o tráfego para caminhões e veículos de passeio. A passagem de ambulâncias foi permitida. O trânsito foi liberado depois das 11h.
Houve bloqueio ainda na BR 116, no trevo de acesso a Dois Irmãos. Motoristas encararam filas das 10h até as 11h30min. A categoria se dispersou e cogitava bloquear novamente a estrada ao final do dia. Em Nova Petrópolis, no km 8 da RS 235, um grupo estava no local em mobilização desde o feriado. A rodovia ficou bloqueada parte da manhã. Na sequência, os manifestantes interromperam o trânsito a cada 60 minutos. No período da tarde quem não aderiu ao movimento pôde seguir adiante. Não houve lentidão no trânsito até Gramado. Em São Francisco de Paula, a mobilização começou por volta das 9h no km 96 da RS 020, onde não houve bloqueios da via.
Vale do Paranhana
Segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), no Vale do Paranhana, também foi verificado bloqueio no km 49 da ERS 239, próximo ao acesso à ERS 115, entre Parobé e Taquara. O trânsito ficou lento na região. A partir das 8h, o bloqueio foi total nas pistas principais da rodovia. No final da manhã, os caminhões se dirigiram para o acostamento da pista, sem mais interromper o fluxo de veículos. Também foi registrada lentidão no km 13 da RS 115, em Igrejinha. O protesto começou às 9h.
Vale do Rio Pardo
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, no entroncamento da RSC 287 com a BR 471, aconteciam manifestações desde a tarde de quarta-feira. Motoristas de caminhões estavam sendo convidados pelos líderes do movimento a pararem e havia veículos no acostamento. Caminhões com carga viva, alimentos perecíveis e medicamentos podiam seguir adiante. O trânsito no local registrou lentidão, com formação de filas, especialmente em direção a Candelária. Os caminhões que passavam eram abordados, em especial nos kms 81, 105 e 138, em Candelária, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Havia banheiros químicos e até um guindaste com a bandeira do Brasil em um dos pontos. As principais pautas dos presentes eram a contrariedade com a alta dos combustíveis e as ações do Supremo Tribunal Federal (STF).
Vale do Caí
No Vale do Caí, em São Sebastião do Caí, nos kms 7, 64 e 96 da RS 122 ocorreram bloqueios parciais de caminhões.
Região Central
O bloqueio total verificado no km 415 da BR 153 em Cachoeira do Sul, na região Central do RS, foi um dos mais tensos nesta quinta-feira. A BR 153, na entrada da localidade de Porteira Sete, ficou em meia pista com a colocação de cones, tonéis e troncos de árvores sobre a pista. Às 9h30min, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Pantano Grande, que acompanhava a manifestação, desbloqueou o trecho.
Região Norte
A PRF iniciou a liberação de caminhoneiros no km 192 da BR 158 em Cruz Alta às 8h30min.
Fronteira Oeste
Na Fronteira Oeste, bloqueios parciais ocorreram no km 482 da BR 290, em Rosário do Sul, e no km 420, em São Gabriel. Apenas carros e caminhões com alimentos perecíveis tinham permissão para seguir viagem.
Região Metropolitana
Na Região Metropolitana, um pequeno grupo de caminhoneiros ficou entre as paradas 87 e 88 da RS 040, em Viamão. Não ocorreram bloqueios na área.
Alto Uruguai
Em Sarandi, no Alto Uruguai, no km 136 da BR 386, a pista foi bloqueada para todos os veículos pouco depois das 13h30min na altura do Posto Papagaio. A liberação ocorria a cada 20 minutos, sempre com negociações feitas pelos agentes da PRF.
Litoral Norte
No Litoral Norte, dois pontos da BR 101 registraram manifestações. Em Três Cachoeiras, os manifestantes impediram a passagem de caminhões no km 23. A rodovia foi liberada posteriormente. Em Osório, onde há possibilidade de acontecerem novos protestos, caminhoneiros liberaram a estrada no km 85 às 9h. Caminhões que seguiam em direção a Torres chegaram a ficar bloqueados por duas horas e meia.
Além desses bloqueios parciais ou totais, outros municípios também tiveram algum tipo de protesto, casos de Mato Castelhano (km 273 da BR 285), Júlio de Castilhos (km 267 da BR 158), Vacaria (km 44 da BR 116), Panambi (km 158 da BR 158), Boa Vista das Missões (km 74 da BR 386), São Borja (km 672 da BR 285) e Passo Fundo (km 285 da BR 302). Outras localidades do Estado poderiam ter mobilizações de caminhoneiros nas próximas horas.
Entidades negam envolvimento
As principais entidades representantes da categoria informaram não estarem coordenando nem apoiando as ações dos caminhoneiros. As manifestações ocasionaram uma corrida pelo país aos postos de combustíveis, pois muitos motoristas temeram o desabastecimento nas bombas de gasolina. O presidente da Federação dos Caminhoneiros do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (Fecam) e da Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Carga (Conftac), André Costa, revelou que as entidades não apoiam nenhuma paralisação dos caminhoneiros. O dirigente reafirmou também que a Fecam e a Conftac não estão envolvidas no movimento que ocorre por diversas rodovias do país. Conforme disse André Costa, há pontos isolados com caminhões novos e equipamentos agrícolas de boa qualidade, não caracterizando caminhoneiros autônomos. “Alguém deve ser o proprietário disso e ter suas razões para tumultuar a sociedade”, observou.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) divulgou nota oficial antes do feriado sobre os possíveis protestos dos caminhoneiros na data. Trecho da manifestação da entidade dizia: “Em relação às manifestações anunciadas para acontecer no dia 7 de Setembro, a CNTA compreende que trata-se de um dia de atos pelo país organizados pela população, convocados e divulgados nas redes sociais e em grupos de aplicativos de mensagens e que não carregam em seu escopo nenhuma reivindicação específica relacionada à atividade profissional do caminhoneiro autônomo”.