Com Bolsonaro, há uma "autorização" para o racismo, diz Roger Machado
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Com Bolsonaro, há uma "autorização" para o racismo, diz Roger Machado

Treinador do Grêmio é um dos poucos técnicos negros na elite do futebol brasileiro

AFP

Roger Machado definiu a equipe gremista no treino desta segunda-feira

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O técnico do Grêmio, Roger Machado, um dos poucos treinadores negros na elite do futebol brasileiro, disse que o discurso do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, dá uma "autorização" para o racismo, para o qual pede resistência. Com passagens por Palmeiras, Fluminense e Atlético Mineiro, Roger, de 47 anos, ídolo e multicampeão como jogador pelo Tricolor gaúcho, conta que sofre com o racismo estrutural de um país que aclama seus jogadores negros, mas coloca obstáculos para os que querem ser treinadores em entrevista à AFP.

Pergunta: Por que há tão poucos treinadores negros no Brasileirão?

Resposta: "O futebol revela o que somos como sociedade. A representatividade da população negra em outras áreas é muito parecida com a do futebol. Quando negros e brancos decidem ascender na pirâmide social, os filtros começam a aparecer. São os filtros da ideologia que criou o racismo e que atribui ao negro uma condição de menor inteligência, menor capacidade de liderança e gestão, justamente as competências de um treinador de futebol".

P: Quais atos racistas você enfrentou até se tornar treinador?

R: "O racismo velado, à brasileira, esse que construiu um falso mito de uma 'democracia racial' na qual, em teoria, não havia racismo nem preconceitos no Brasil. A discriminação sistemática, estrutural, é outra, muito mais complexa. Nos meus primeiros trabalhos como treinador, muitas vezes, quando era demitido, questionavam a minha capacidade de gerir grupos, sendo que essa era uma das grandes capacidades que eu sempre tive como jogador, como liderança, como capitão".

P: ONGs alertam para o crescimento de atos racistas nos estádios brasileiros. Você tem percebido isso?

R: "Aumentam da mesma forma que os atos discriminatórios na sociedade. (...) Os que acreditam estar perdendo parte de seus privilégios nessa rede que o racismo construiu durante 500 anos reagem de forma mais agressiva. É um processo relacionado com uma cultura de ódio que vivemos com muito mais força nos últimos quatro anos no Brasil. Mas não é uma situação regional, é global".

P: Bolsonaro é responsável?

R: "Os indivíduos que estavam escondidos se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação, (porque estes) são convergentes. Temos que resistir, porque sua intenção é que retrocedamos, e isso não podemos permitir.

P: Atletas e treinadores deveriam se posicionar mais fortemente?

R: "Como atletas somos treinados para não sairmos do campo (...) Há muitas formas diferentes de se manifestar. A questão é que a maioria de nós, lamentavelmente, tem um nível de escolaridade mais baixo porque o país não privilegiou nossa educação plena. Isso também impacta na nossa consciência (...) em nossa construção ideológica para debater esses assuntos".

P: É possível eliminar o racismo do futebol?

R: "Imediatamente, não. Mas é possível se começarmos a discutir o assunto abertamente, sendo conscientes de que haverá maiores atos de discriminação devido a um movimento de resistência. Haverá um grupo que não vai mudar porque acredita ser de uma raça superior (...) Mas isso já foi discutido para outros assuntos, como quando a mulher decidiu ocupar novos espaços na sociedade. O preconceito foi muito forte. No entanto, houve coragem para debater o tema. O que não podemos é ficar escondidos atrás do mito da 'democracia racial' no Brasil", finaliza. 

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