Apesar de adotar a Sharia, Catar fará "vista grossa" em relação ao comportamento de estrangeiros
Acostumado a receber turistas, país-sede da Copa do Mundo é próximo da "internacionalização", mas especialista faz ressalvas
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Esta quinta-feira marca exatamente um mês para o início da Copa do Mundo. O maior evento esportivo mundial já será histórico por um motivo: será o primeiro a ser realizado em um país do Oriente Médio, o Catar.
A despeito da reunião de craques como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e Lewandowski, e jogos entre as melhores seleções do mundo, nas arquibancadas e nas ruas do país, o maior evento esportivo do mundo será muito diferente dos anteriores. Isso acontece porque o Catar tem o Islamismo como religião oficial e a Sharia como “principal fonte” da sua constituição local.
A lei islâmica em rigor no país proíbe, por exemplo, o consumo de álcool, relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, além de pedidos para mulheres se vestirem “pudicamente” em público. Segundo o Comitê supremo do Catar, o país espera atrair cerca de 1,2 milhão de turistas ao evento. Para efeito de comparação, a população catari é de cerca de 2,8 milhões.
Por ser um país com leis muito diferentes das adotadas pela comunidade internacional, há a preocupação de como o país-sede do evento lidaria com torcedores com costumes tão diferentes do habitual. Na opinião de Manuel Furriela, professor de Relações Internacionais na FMU, apesar do certo temor em relação ao Catar, o país, por já receber muitos turistas e empresários a negócios, principalmente na capital Doha, vem se atualizando em relação ao sistema jurídico, em que há certa “vista grossa” em relação ao comportamento de estrangeiros.
“O Catar tem recebido já tradicionalmente muitos turistas e agora com a Copa do Mundo eles vão ter que fazer um processo desse tipo. A tolerância a certo hábitos mais diferentes, como consumo de álcool, restrito a certos ambientes, e nos ambientes públicos um nível de tolerância em relação aos estrangeiros, então eu acredito que é dessa forma como eles vão operar, o que permite na maior parte das situações conseguir atender essas exigências dos estrangeiros com certa tranquilidade”, opina.
Segundo a FIFA, entidade oficial do futebol, o consumo de bebidas alcoólicas será permitida de forma regulada, em lugares específicos e em horários limitados. Dentro dos estádios, o consumo de bebidas está proibido.
Para os estrangeiros, o consumo pode ser feito com maior facilidade nos hotéis internacionais. Em espaços públicos, haverá quiosques de venda de cerveja nos arredores das arenas que sediam os jogos, que abrirão três horas antes dos jogos, fechando meia hora antes, e reabrindo por uma hora após o final de cada partida. Nas tradicionais Fan Fests montadas pela FIFA, o consumo será permitido entre as 18h30min e 2h da manhã.
Brasileiros na Copa
Pela última parcial divulgada pelo comitê organizador da Copa, o Brasil é o nono país que mais requisitou entradas, com quase 40 mil pedidos de ingressos feitos por brasileiros. “O Catar com certeza vai ter algum nível de tolerância com relação aos brasileiros. Os hábitos mais comuns, eu acho que eles não vão ter problemas. Então consumo de bebida alcoólica nos ambientes relacionados ao evento é aceito, e admitido”, afirma Furriela.
“Agora o problema está nos ambientes públicos. Caso algum brasileiro seja flagrado praticando algum tipo de ato que não seja aceito pela cultura do catar, mas não seja grave, eu acredito que vai haver uma tolerância por parte das autoridades e eles vão dosar a gravidade [da punição]. Se for um pouco mais grave, pode acontecer a expulsão do estrangeiro do país.”, alerta o especialista, que ressalta que o turista ‘tem que aceitar as leis do país que está sendo visitado’.
Em outros países, como, por exemplo, no Reino Unido, a embaixada ressalta que a punição para posse de drogas tende a ser severa, independente da quantidade. “Se acontecer um caso mais grave, a diplomacia brasileira vai ter que atuar”, ressalta o professor.
Um dos pontos mais criticados pela imprensa e por grupo de ativistas se refere as leis do país, que criminalizam relacionamentos homoafetivos. Em entrevista à agência de notícias Associated Press dada em abril deste ano, o major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, que ocupa o cargo mais alto nas forças de segurança do país, afirmou que não é possível garantir a segurança de torcedores da comunidade LGBTQIA+ no evento.
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Apesar da FIFA insistir que bandeiras do arco-íris sejam aceitas dentro dos estádios, autoridades cataris pedem prudência em ambientes públicos, assim como advertem para demonstrações de afeto em público, independente da orientação sexual.
Além do Catar, outros países do Oriente Médio seguem a rigorosa lei da Sharia, e que, na visão de Furriela, tornaria a realização de um evento dessa magnitude praticamente impossível, como no caso de Irã, Afeganistão e Iêmen. “Se a gente pegar em termos Gerais, os mais próximos da internacionalização são os Emirados Árabes Unidos, o Catar é um dos mais próximos também, mas existem alguns muito radicais, onde seria muito difícil a realização de um evento desse tipo, até porque você não tem nenhum tipo de aceitação, mesmo para estrangeiros de hábitos ocidentais. No Catar pelo menos você tem aceitação de muitos desses hábitos em ambientes que são de circulação de turismo, em outros nem isso”.